data-filename="retriever" style="width: 100%;">As notícias da política brasileira não dão uma ideia clara da situação real. Há uma nuvem de fumaça expelida dos Palácios da Alvorada e do Planalto, que encobre o que interessa de fato aos brasileiros.
A postura do governo, em especial seu núcleo central, é a de manter um confronto belicoso com tudo que não lhe é do agrado. São rotineiras brincadeiras de mau gosto, ofensas pessoais, bravatas sobre o futuro; sem falar nas idas e vindas do presidente, que diz uma coisa, depois volta atrás para logo mais retomar o que tinha dito por primeiro. Há uma sensação de que o que é dito não é pensado, mas despejado.
Resta saber se isto não seria estratégia, inspirada em Abelardo Barbosa que, dizia: "Eu não vim para explicar, vim para complicar". Aliás, Chacrinha distribuía bacalhau para sua plateia e o presidente contratou um cover para atender jornalistas na saída do Alvorada e responder sobre a alta do dólar, distribuindo bananas para os profissionais da imprensa, ao estilo do Velho Guerreiro.
Enquanto isto, no Brasil real vamos cambaleando sem saber qual o rumo que seguiremos. Dentre tantos fatos ocultos, pinço um. Trata-se de relatório divulgado durante a realização do Fórum Econômico Mundial que mede o índice de mobilidade social de 82 países. O estudo aborda qual o tempo necessário para uma pessoa que nasce numa determinada classe socioeconômica melhorar de posição ao longo da vida. A Dinamarca lidera o ranking, seguida pela Noruega e Finlândia. O Brasil ocupa o 60° lugar, atrás do Uruguai, Chile e Equador
O relatório aponta a baixa mobilidade social como causa e consequência do aumento das desigualdades e, além disto, é entrave ao desenvolvimento econômico e fator que prejudica a coesão social. A sociedade extremamente desigual, naturalmente, terá menor grau de identidade, tendendo a ser fragmentada em estratos que terminam por não se reconhecerem como nação.
Uma pessoa nascida no Brasil, no patamar mais baixo de renda, levaria o tempo de nove gerações para seus descendentes alcançarem a renda média brasileira. Considerando que a renda média mensal de 60% dos trabalhadores brasileiros - o correspondente a 54 milhões de empregados com carteira assinada ou na informalidade - foi menor que um salário mínimo em 2018, segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnadc), o futuro não é promissor.
Para a elaboração do ranking foram considerados 10 itens em cinco áreas: saúde, educação, tecnologia, trabalho e proteção social. No quesito aprendizagem, ao longo da vida ficamos em 80° lugar, à frente somente de Geórgia e Bengaladesch.
A fumaça encobre realidades como esta apontada pelo Fórum Econômico Mundial e tantas outras, como o desemprego, o empobrecimento da população em geral, o sucateamento das industrias, a queda das vendas.